
PEÃO DESASTRADO
Revirando o baú de minhas memórias, lembrei-me de um fato ocorrido na minha infância que ficou guardado em minhas lembranças até aos dias de hoje.
Não sei se é pelo fato de eu haver passado minha primeira infância em um lugar tão remoto, longe da agitação das grandes cidades, onde todo acontecimento virava evento; mas o fato é que muitas lembranças daquela época sempre se mantiveram vivas em minha memória.
Sem muitas formas de diversão, nos deleitávamos passando horas em volta de pessoas adultas, prestando atenção nos "causos" que contavam, o que me deixava fascinado.
Naquele dia, porém, não se tratava de "causos" contados, mas de algo que de fato estava para acontecer, que, sempre que acontecia, mudava a rotina do pequeno sítio em que vivíamos: era dia de amansar cavalos!
Passávamos a semana toda ansiosos que chegasse o dia do grande acontecimento, pois, mais que os casos que eram contados quase que diariamente, o fascínio que aquele acontecimento exercia sobre nós, crianças, era, sem sombra de dúvidas, ainda maior.
Aquela era uma das ocasiões em que o caso iria acontecer, e seríamos testemunhas de tudo.
Bom, o que nos chamou a atenção naquele dia em especial, foi um incidente que marcou pra sempre em nossa memória, e que seria motivo de risos incontáveis enquanto nos lembrássemos dele.
Os animais seriam amansados no sábado, mas já na sexta feira chegou em nossa casa um primo nosso, o qual aqui vou chamar apenas de Binho, que quase não andava por aquelas bandas, exceto em ocasiões como aquela.
Chegou, e foi logo se voluntariando pro meu pai, para montar em uma mulinha arredia que criávamos no sítio.
- E desde quando você é domador de mula, Binho? Perguntou meu pai desdenhando.
- O senhor vai ver, tio... Respondeu.
Todavia a relação do meu primo com o animal já começou não muito bem.
Sexta-feira a tarde, após o expediente, estávamos meu pai, meus irmãos maiores, meu primo e eu, um tiquico de gente, com nada mais do que seis anos de idade, próximos a um pequeno córrego; a mulinha pastava um pouco adiante de nós.
O Binho, nada exibicionista que era, fez seu primeiro contacto com o animal. Desastroso contacto!
Aproximou-se da mula por traz e deu-lhe um tapa na anca esquerda.
Foi automático: Pá, pum!
Mal sua mão tocou o animal, sua testa recebeu o contra-golpe: um coice daqueles!
O rapaz caiu de costas, chegando a ficar desacordado por alguns minutos.
Felizmente, foi só um susto... E um galo. Pouco depois, recobrou os sentidos e levantou-se tentando disfarçar o vexame. Não adiantou. Passado o susto, o que era apreensão, passou a ser um estardalhaço de risos sem fim. Coitado do peão! Se ele montasse tão mal quanto se relacionava com o animal, seu futuro como domador de cavalos estava totalmente comprometido.
Tava mais é pra comediante.
Agora, pensa que a história acabou por aí? Vai pensando!
(João Roberto Fernandes)
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